Esta semana estive no Rio de Janeiro, precisava acertar uns ponteiros e
resolver os ajustes finais do meu próximo livro. Não é a primeira vez que
estive lá, mas já fazia algum tempo desde que pisei em terras cariocas pela
última vez. Assim que cheguei, já recepcionado pelo taxista que me levava até
meu primeiro destino, uma avalanche de reclamações terroristas. Sim, porque pra
falar a verdade, eu fiquei apavorado só com aquele primeiro diálogo. “Se você
puder resolver tudo até o meio dia, vá embora rapidinho, antes do almoço, se
puder!”, declarou o taxista com seu sotaque novelístico. Naquela manhã, fiquei
inquieto por conta daqueles comentários, não porque me deixei levar pelos do
taxista falastrão, mas por que as notícias corroboravam o que me foi dito.
Enquanto trabalhava, olhava constantemente janela afora.
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Homenagem mais que merecida ao grande Pixinguinha |
Porém, como fui criado em cidade grande – que infelizmente já força seus
concidadãos a conviver com a violência desde sempre –, comecei a relaxar e me
deixar levar pelos encantos da “Cidade Maravilhosa”. Saindo da rota turística,
já que estava ali exclusivamente a trabalho e não tinha tempo para tal, me
ative ao que o mundo da cultura e da boemia oferecia. Como já disse, não foi
minha primeira vez no Rio, mas vi o Rio pela primeira vez como não havia visto
ainda. Ao andar pelas ruas históricas, como a Rua do Ouvidor, pude sentir a
festividade carioca no ar, pude ver a alegria de quem gosta de liberdade, da
música, dos poemas cantados ao vento, dos aromas e sabores inebriantes. Embora
já tenha conhecido em outra ocasião o Pão de Açúcar, o Corcovado e tudo mais
que faz parte do cartão postal, não senti falta de nada. Os encantos da
arquitetura, das passagens estreitas, dos carros antigos, dos trejeitos e
sorrisos, exalam história.
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Uma pausa no "escritório", na companhia dos gigantes de diferentes gerações |
Nem preciso dizer que um banho de cultura ajudou a melhorar a qualidade
de meu trabalho ali. A inspiração recebida ajudou, mesmo que eu ainda ficasse,
às vezes, arredio ao caminhar pela cidade. Se existe uma coisa que aprendi aqui
em Minas, é que precaução e canja de galinha nunca fazem mal a ninguém... Mas
tudo correu bem, mesmo que o taxista que me levava embora, já no final de tudo,
ainda continuasse com a mesma atitude do primeiro, e ainda confirmou suas
palavras me mostrando um boletim de ocorrência de um assalto sofrido, que ele
fez questão de tirar do porta-luvas.
Ao sair do Rio, senti um misto de cansaço, alívio, saudade e alegria.
Mesmo com toda a violência que toma conta daquela cidade, como disse Gilberto
Gil na sua canção “Aquele abraço”, de 1969: O Rio de Janeiro continua lindo...
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Este artigo também foi publicado no quadro “Aí tem”, da Rádio Sete Colinas
101,7 FM de Uberaba – MG. Clique aqui para ouvir!