sábado, 26 de agosto de 2017

O RIO DE JANEIRO CONTINUA O MESMO

Esta semana estive no Rio de Janeiro, precisava acertar uns ponteiros e resolver os ajustes finais do meu próximo livro. Não é a primeira vez que estive lá, mas já fazia algum tempo desde que pisei em terras cariocas pela última vez. Assim que cheguei, já recepcionado pelo taxista que me levava até meu primeiro destino, uma avalanche de reclamações terroristas. Sim, porque pra falar a verdade, eu fiquei apavorado só com aquele primeiro diálogo. “Se você puder resolver tudo até o meio dia, vá embora rapidinho, antes do almoço, se puder!”, declarou o taxista com seu sotaque novelístico. Naquela manhã, fiquei inquieto por conta daqueles comentários, não porque me deixei levar pelos do taxista falastrão, mas por que as notícias corroboravam o que me foi dito. Enquanto trabalhava, olhava constantemente janela afora.
Homenagem mais que merecida ao grande Pixinguinha
Porém, como fui criado em cidade grande – que infelizmente já força seus concidadãos a conviver com a violência desde sempre –, comecei a relaxar e me deixar levar pelos encantos da “Cidade Maravilhosa”. Saindo da rota turística, já que estava ali exclusivamente a trabalho e não tinha tempo para tal, me ative ao que o mundo da cultura e da boemia oferecia. Como já disse, não foi minha primeira vez no Rio, mas vi o Rio pela primeira vez como não havia visto ainda. Ao andar pelas ruas históricas, como a Rua do Ouvidor, pude sentir a festividade carioca no ar, pude ver a alegria de quem gosta de liberdade, da música, dos poemas cantados ao vento, dos aromas e sabores inebriantes. Embora já tenha conhecido em outra ocasião o Pão de Açúcar, o Corcovado e tudo mais que faz parte do cartão postal, não senti falta de nada. Os encantos da arquitetura, das passagens estreitas, dos carros antigos, dos trejeitos e sorrisos, exalam história.
Uma pausa no "escritório", na companhia dos
gigantes de diferentes gerações
Nem preciso dizer que um banho de cultura ajudou a melhorar a qualidade de meu trabalho ali. A inspiração recebida ajudou, mesmo que eu ainda ficasse, às vezes, arredio ao caminhar pela cidade. Se existe uma coisa que aprendi aqui em Minas, é que precaução e canja de galinha nunca fazem mal a ninguém... Mas tudo correu bem, mesmo que o taxista que me levava embora, já no final de tudo, ainda continuasse com a mesma atitude do primeiro, e ainda confirmou suas palavras me mostrando um boletim de ocorrência de um assalto sofrido, que ele fez questão de tirar do porta-luvas.
Ao sair do Rio, senti um misto de cansaço, alívio, saudade e alegria. Mesmo com toda a violência que toma conta daquela cidade, como disse Gilberto Gil na sua canção “Aquele abraço”, de 1969: O Rio de Janeiro continua lindo... •


Este artigo também foi publicado no quadro “Aí tem”, da Rádio Sete Colinas 101,7 FM de Uberaba – MG. Clique aqui para ouvir!