segunda-feira, 9 de outubro de 2017

A DOR DE BARRIGA

O casal andava pelos corredores de uma enorme loja de departamentos. De repente, o marido escuta um barulho vindo da direção de sua mulher. Sem perder tempo, já soltou:
– Tem vergonha não? Eu ouvi, hein?
– Soltei mesmo. E só tem você por perto, então não enche!
Já um pouco afastado, o homem riu daquela situação. Algum tempo depois, a mulher, já com semblante nervoso, o chama para ir embora. Sem dizer nada, mas estranhando, o marido seguiu em direção à saída da loja, balançando a chave do carro. Porém, antes de entrar no carro, mas já no estacionamento, a mulher andou apressadamente à procura de um banheiro.
Apenas observando o comportamento de sua esposa, o homem ficou em pé ao lado do carro sem dizer nada enquanto a via andar de um lado para outro. Quando ela se aproximou, já disse quase de modo esbaforido:
– Vamos embora logo que eu não estou bem... Minha barriga está começando a doer.
– Mas dá pra aguentar até chegar em casa, né?
– Anda logo, entra nesse carro, homem!
Sem retrucar, ele deu partida no carro e começou a dirigir. Já no trânsito, a impaciência da mulher começou a se tornar ainda mais evidente quando ela gritava pedindo para que ele acelerasse mais o carro e até infringisse a lei, ultrapassando os faróis vermelhos. Vendo a atitude da mulher, o homem queria rir, mas se segurava. Nem mesmo ele sabia o porquê de achar graça daquilo tudo. Antes de responder que não podia cometer aquela infração, ele olha para a mulher e a vê esticada no banco, gemendo e suando frio. O pânico em seus olhos era evidente, parecia que a qualquer momento ela fosse explodir. E, fazendo força como estivesse de algum modo se trancando em meio aos gemidos, mais reclamação, já quase aos gritos, sobre o trânsito.
O homem viu que não daria para ir pra casa. Fez a volta e acelerou o carro em direção a um supermercado. Ao entrar na cancela da entrada do estacionamento, a mulher xingou a voz que desejava “boas vindas e boas compras”. Já com receio de qualquer incidente naquele carro, o homem dirigiu rapidamente à porta principal e ficou reparando se a mulher iria se borrar enquanto adentrava a procura de um banheiro. Depois de achar uma vaga, entrou no mercado, comprou algo pra comer e validou seu ticket, que dava direito à uma hora de estacionamento.
O tempo foi passando e nada de sua esposa chegar. Já preocupado, ele se preparava para ir atrás de sua esposa. “O que será que aconteceu com essa mulher?”, ele pensava enquanto imaginava milhares de situações possíveis e imagináveis – todas elas envolvendo uma grande sujeira – “será que ela está sem papel? Acho melhor ligar...”. Pegou seu celular e ligou, mas ela havia deixado a bolsa no carro.
Quase quarenta minutos depois, a mulher chega. O rosto pálido era um misto de alívio e angústia. Ao entrar no carro, antes que o homem pudesse perguntar qualquer coisa, a mulher diz:
– Melhor você não abrir a boca pra falar nada... Ou não acha que eu percebi que você estava tirando sarro da minha cara? Você sabe que me intestino vive preso e quando solta é de uma vez! E eu nem sei pra quê estou te dando satisfações... Vamos embora logo, Arlindo! E não quero ouvir um pio!
No trajeto para casa, só restou ao homem imaginar o que havia acontecido enquanto continha sua vontade de rir daquela situação. Ele sabia que se soltasse o riso, poderia sofrer consequências que não cheirariam nada bem. •


Esta crônica também foi publicada no Jornal de Uberaba.