Não existe melhor definição para o que está acontecendo no país nesse
momento. A conturbação é tanta, que não se fala em mais nada. O assunto não se
exaure. Muito pelo contrário, ganha força a cada hora que passa, pois tal qual
uma novela, tudo parece se arrastar com a apresentação de novos acontecimentos e
personagens.
Enquanto de um lado, a opinião é de que a operação “Lava-Jato” é um sucesso nunca antes visto, para outros é um tipo
de “Caça às bruxas”, instigado por
aqueles que perderam as eleições. O fato é que o Governo de maneira geral está
cada vez mais disposto a guerrear tanto com justiça quanto com o próprio povo,
que de maneira geral está cansado de ver a corrupção oxidar o país. São queixas
contra juiz federal partindo da própria Presidente, reclamações em relação à
exposição de conversas telefônicas colocando em xeque a autenticidade de sua
obtenção e até ameaças à Polícia Federal do recém-nomeado Ministro da Justiça, que
segundo alguns apenas assumiu a pasta para de alguma forma frear a “Lava-Jato”.
Enquanto isso, manifestações de todos os tipos cortam a cidade, milhares
de pessoas com uniformes, bandeiras, gritos a favor e contra o atual governo.
Artistas aproveitam o momento para ir além da sua manifestação e se exibem em
shows dos mais variados estilos. Quem ganha também são os fabricantes de
panelas, já que panelaços também fazem parte dos protestos.
As gravações feitas pela “Lava-Jato”
também são alvo de divergência, principalmente porque elas foram divulgadas
pela imprensa aumentando ainda o alvoroço por parte de todos – Situação e
Oposição – com as mais variadas opiniões a respeito do teor apresentado. De um
lado, a contestação é se tal operação seria para produzir novas provas contra o
ex-presidente, fazendo desta uma prova adquirida de maneira ilícita, ainda mais
com a divulgação dela, que deixaria o atual Ministro da Casa Civil mais vulnerável
e sem qualquer possibilidade de defesa.
Por outro lado, as críticas sobre a atitude da Presidente, que apareceu
em um desses áudios, são muitas, inclusive a de que ela cometeu crime de
responsabilidade obstruindo a atuação da Justiça e falta de decoro, além de dar
indícios que derrubariam a alegação de sua inocência.
Alguns favoráveis ao Governo chegaram até a pedir a destituição do juiz
federal responsável pelo “vazamento”
da gravação por meio de um abaixo-assinado, com a justificativa de que o juiz não
apenas cometeu um erro jurídico, mas contrariava procedimentos previstos em lei,
inclusive na condução coercitiva do ex-presidente – que foi um tipo de gota d’água
para o início desse embate – sendo o juiz imperito, imprudente e negligente. Esse
mesmo juiz foi ovacionado por milhares de pessoas na maior manifestação
registrada, tratado como herói.
Logo em seguida a esse acontecimento, o Governo anuncia que irá
incorporar em seu ministério o ex-presidente padrinho, alegando que é para o
bem do país, que está no olho do furacão de uma crise político-econômica – isso
não é contestado por nenhum dos lados – e a oposição alvoroçada corre para suspender
a posse do novo ministro, impedindo-o de despachar, fazendo com que o Governo recorra
da decisão até uma decisão final do Supremo Tribunal de Justiça, a última
instância.
Enquanto a Oposição chama essa atitude de “fraude à Constituição”, onde impedir o cumprimento de ordem de
prisão de juiz de primeira instância, sendo essa manobra uma espécie de salvo-conduto
emitida pela Presidente da República, pois assim sua provável prisão não
poderia ser decretada, já que Ministros detêm foro privilegiado, a Situação diz
que a nomeação do novo Ministro foi legal e sem qualquer vício, argumentando
que o impedimento tem “postura politizada”.
A confusão é tanta, que nos últimos dias, os noticiários dedicam quase
todo seu horário a apenas este embate, apresentando brados de todos os tipos,
partindo desde a Presidente discursando – em defesa própria no intuito de
amenizar a insatisfação, inclusive de seu próprio partido político em relação à
condução da política econômica, e em defesa do padrinho nomeado Ministro – até juízes
e ministros e advogados ficarem trocando farpas entre si enquanto o povo fica
no fogo cruzado, indeciso, discutindo se o impeachment é ou não necessário,
gastando seu tempo e dinheiro para apoiar ambos os lados.

É necessário que se tenha a consciência, partindo de nós mesmos, de que o
país precisa avançar, sair dessa situação. Não adianta pensar que a atual Presidente
saia e assuma seu vice que tudo irá mudar, como num passe de mágica. A frase
“Sou brasileiro e não desisto nunca”,
não deve servir apenas como slogan para enfeitar para-choques de caminhão. É necessário
colocar isso na prática. É preciso renovar e aproveitar essa energia que emerge
dos movimentos e exigir que as pessoas que nos representam, sejam responsáveis
e pensem no bem comum, ao invés de apenas em seus próprios bolsos. Não adianta
ficar discutindo sobre semipresidencialismo, parlamentarismo, impeachment ou qualquer
outra coisa, se ficarmos caminhando sem rumo, como estamos atualmente.
E nessa queda de braço para demonstrar quem tem mais poder, a população
deve ter a consciência de que o povo é maior, mas deve se dar o devido valor
primeiro.