sábado, 19 de março de 2016

QUEDA DE BRAÇO



Não existe melhor definição para o que está acontecendo no país nesse momento. A conturbação é tanta, que não se fala em mais nada. O assunto não se exaure. Muito pelo contrário, ganha força a cada hora que passa, pois tal qual uma novela, tudo parece se arrastar com a apresentação de novos acontecimentos e personagens.
Enquanto de um lado, a opinião é de que a operação “Lava-Jato” é um sucesso nunca antes visto, para outros é um tipo de “Caça às bruxas”, instigado por aqueles que perderam as eleições. O fato é que o Governo de maneira geral está cada vez mais disposto a guerrear tanto com justiça quanto com o próprio povo, que de maneira geral está cansado de ver a corrupção oxidar o país. São queixas contra juiz federal partindo da própria Presidente, reclamações em relação à exposição de conversas telefônicas colocando em xeque a autenticidade de sua obtenção e até ameaças à Polícia Federal do recém-nomeado Ministro da Justiça, que segundo alguns apenas assumiu a pasta para de alguma forma frear a “Lava-Jato”.
Enquanto isso, manifestações de todos os tipos cortam a cidade, milhares de pessoas com uniformes, bandeiras, gritos a favor e contra o atual governo. Artistas aproveitam o momento para ir além da sua manifestação e se exibem em shows dos mais variados estilos. Quem ganha também são os fabricantes de panelas, já que panelaços também fazem parte dos protestos.
As gravações feitas pela “Lava-Jato” também são alvo de divergência, principalmente porque elas foram divulgadas pela imprensa aumentando ainda o alvoroço por parte de todos – Situação e Oposição – com as mais variadas opiniões a respeito do teor apresentado. De um lado, a contestação é se tal operação seria para produzir novas provas contra o ex-presidente, fazendo desta uma prova adquirida de maneira ilícita, ainda mais com a divulgação dela, que deixaria o atual Ministro da Casa Civil mais vulnerável e sem qualquer possibilidade de defesa.
Por outro lado, as críticas sobre a atitude da Presidente, que apareceu em um desses áudios, são muitas, inclusive a de que ela cometeu crime de responsabilidade obstruindo a atuação da Justiça e falta de decoro, além de dar indícios que derrubariam a alegação de sua inocência.
Alguns favoráveis ao Governo chegaram até a pedir a destituição do juiz federal responsável pelo “vazamento” da gravação por meio de um abaixo-assinado, com a justificativa de que o juiz não apenas cometeu um erro jurídico, mas contrariava procedimentos previstos em lei, inclusive na condução coercitiva do ex-presidente – que foi um tipo de gota d’água para o início desse embate – sendo o juiz imperito, imprudente e negligente. Esse mesmo juiz foi ovacionado por milhares de pessoas na maior manifestação registrada, tratado como herói.
Logo em seguida a esse acontecimento, o Governo anuncia que irá incorporar em seu ministério o ex-presidente padrinho, alegando que é para o bem do país, que está no olho do furacão de uma crise político-econômica – isso não é contestado por nenhum dos lados – e a oposição alvoroçada corre para suspender a posse do novo ministro, impedindo-o de despachar, fazendo com que o Governo recorra da decisão até uma decisão final do Supremo Tribunal de Justiça, a última instância.
Enquanto a Oposição chama essa atitude de “fraude à Constituição”, onde impedir o cumprimento de ordem de prisão de juiz de primeira instância, sendo essa manobra uma espécie de salvo-conduto emitida pela Presidente da República, pois assim sua provável prisão não poderia ser decretada, já que Ministros detêm foro privilegiado, a Situação diz que a nomeação do novo Ministro foi legal e sem qualquer vício, argumentando que o impedimento tem “postura politizada”.
A confusão é tanta, que nos últimos dias, os noticiários dedicam quase todo seu horário a apenas este embate, apresentando brados de todos os tipos, partindo desde a Presidente discursando – em defesa própria no intuito de amenizar a insatisfação, inclusive de seu próprio partido político em relação à condução da política econômica, e em defesa do padrinho nomeado Ministro – até juízes e ministros e advogados ficarem trocando farpas entre si enquanto o povo fica no fogo cruzado, indeciso, discutindo se o impeachment é ou não necessário, gastando seu tempo e dinheiro para apoiar ambos os lados.
É necessário que se tenha a consciência, partindo de nós mesmos, de que o país precisa avançar, sair dessa situação. Não adianta pensar que a atual Presidente saia e assuma seu vice que tudo irá mudar, como num passe de mágica. A frase “Sou brasileiro e não desisto nunca”, não deve servir apenas como slogan para enfeitar para-choques de caminhão. É necessário colocar isso na prática. É preciso renovar e aproveitar essa energia que emerge dos movimentos e exigir que as pessoas que nos representam, sejam responsáveis e pensem no bem comum, ao invés de apenas em seus próprios bolsos. Não adianta ficar discutindo sobre semipresidencialismo, parlamentarismo, impeachment ou qualquer outra coisa, se ficarmos caminhando sem rumo, como estamos atualmente.

E nessa queda de braço para demonstrar quem tem mais poder, a população deve ter a consciência de que o povo é maior, mas deve se dar o devido valor primeiro.

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