... que começa e não tem mais fim. Essa letra feita pelo exímio violeiro
Almir Sater me arremete a um lugar que mais sinto falta em minha vida: A
fazenda Campo Largo, que era de propriedade de meus avós. Dificilmente quando
eu ouço este maravilhoso artista eu não me lembro de algo relacionado àquele
lugar ou àquelas pessoas.
Noite passada mesmo, eu me lembrei de um momento. Uma foto, para ser mais
específico. Infelizmente não consigo postá-la aqui, pois ela está na caixa de
fotos de minha mãe. Quem sabe um dia. Mas a imagem abaixo consegue ilustrar mais
ou menos o que quero dizer. De resto, trabalhe com sua mente.
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Meus pais entrando na casa da tia de meu pai |
Vamos lá. Em frente a uma das janelas ficava um pé de laranja. Era
naquele quarto que meus pais ficavam. Eu me lembro muito bem de um dia fazer
pose nele para tirar uma foto. Máquina fotográfica era luxo. Ainda era daquelas
que se colocava filme, “batia” a foto e esperava até que o rolo acabasse (que
podia ser de 12, 24 ou 36 poses) e mandava revelar rezando para que nenhuma
delas queimasse. Hoje em dia é tudo mais fácil, né?
E lá estava eu. Um pé na árvore e outro na calçada – que é diferente
dessas de rua. Ela é elevada e fica na frente da casa, que geralmente fica no
alto. Igual à da casa da imagem acima – com meu pai tomando distância para registrar o momento. A combinação de
calça jeans e chinelos Havaianas era algo que eu só usava lá. A camiseta era a
preferida. Era branca, com a gola e as pontas dos braços avermelhadas com um
número “86”. Não sei o motivo, mas sempre teve uma época em que eu me apegava a
algumas camisetas. Acredito que ainda seja assim. O dia estava nublado. Um
tanto comum, já que era verão. Nós viajávamos sempre no final ou no começo do
ano. Eu devia ter uns seis ou sete anos.
Retrato tirado, provavelmente segui brincando. Não sei exatamente de quê ou com quem, mas me lembro exatamente do lugar. Na frente da casa, um enorme
jardim que minha avó cuidava com todo gosto. Tinha planta de todo jeito –
inclusive o próprio pé de laranjeira – e do outro lado do terreiro, havia um pé
de saboneteira onde o carro de bois ficava estacionado. Ao lado dele, um enorme
coqueiro jerivá. A imagem do Passat azul claro que meu pai tinha naquela época
está registrada em alguma foto na já citada caixa da minha mãe. De um lado da
casa, havia uma “Casa da roda”, onde se fazia farinha de mandioca. Na frente
dele, um pouco mais distante, um chiqueiro de cabras. Do outro lado, um curral,
que era usado ocasionalmente.
Mas das lembranças, as que mais gosto são as de ficar sentado na frente da
casa olhando para a enorme vereda e as de conversar com meus avós. Minha avó apressada
com os afazeres e lenço amarrado na cabeça e meu avô sentado na calçada no fim
da tarde, contando as histórias do passado e preparando seu cigarro de palha.
É por isso que “Saudade” é uma das palavras mais presentes nas poesias de amor e nas músicas populares. •