Esta
segunda-feira, diferentemente da anterior, já começou barulhenta. De onde moro
vejo o vai-e-vem da Av. Abel Reis e o volume de carros e motos é alto, como se
fosse um dia normal de trabalho. As regras da prefeitura de Uberaba sobre restrições
ao funcionamento do comércio, no entanto, estão mantidas, bem como a barreira
sanitária. O prefeito daqui chegou a observar, numa reunião que teve com os
representantes de entidades classistas, que a determinação do decreto vigente
não impede os comércios em geral de manterem funcionamento, desde que as
comercializações sejam mantidas conforme a observação das regras.
Talvez
tudo isso esteja motivado pelo atual embate entre o presidente Jair Bolsonaro,
que faz esforços para liberar “toda e qualquer profissão” para trabalhar, e o
ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que defende a restrição de circulação
do maior número de pessoas porque o Sistema de Saúde, seja público ou privado,
não será suficiente para atender uma eventual demanda, especialmente porque não
há remédio comprovado ainda, já que, segundo ele, a cloroquina, um medicamento
usado contra a malária, artrite reumatoide e lúpus, não pode ser tomada sem
recomendação médica, pois pode causar arritmia cardíaca e paralisar a função do
fígado.
Pois
bem, dito isso, vamos aumentar o escopo e sair um pouco da linha do isolamento
e da inquietação causada pela abstinência social entrar no quesito econômico.
Uma coisa que observei num artigo que li pouco antes de escrever esta crônica é
que a atual crise mundial do coronavírus reúne características de outras
passadas: A insegurança advinda do atentado às torres gêmeas nos EUA em 11 de
setembro de 2001, a ansiedade com a descoberta da AIDS no início dos anos 80 e
o impacto sistêmico de 2007 desencadeado pela concessão de empréstimos hipotecários
de alto risco nos Estados Unidos. Porém, na adversidade atual não existe um
problema cambial como outrora, sendo este monitorado de perto pelo Banco
Central, que por sua vez traça suas metas em busca de liquidez e controle,
inclusive inflacionário, cujo percentual está próximo da mínima histórica. A
palavra-chave então é crédito, que deverá vir através de linhas ou estímulos
fiscais. A redução do consumo, seja por falta de compradores ou até mesmo de
produtos e serviços por falta de mão-de-obra, uma vez que estes também cumprem
o isolamento, leva os empresários a angústia de não saber como se manter vivo
no comércio. A insegurança gera descrença e irritação, que por sua vez leva a
atos de loucura, qualquer que seja.
Já
disse e repito: crises vêm e vão, mas não é com desespero ou simplesmente apelo
popular para que, de forma desmedida, os responsáveis pelo poder público devam
esvaziar os cofres como se não houvesse amanhã. As chamadas “políticas
anticíclicas” devem, como no passado, obedecer aos critérios de avaliação e
cautela, afinal, quando o remédio é dado em dose alta, pode se tornar um veneno.
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Esse artigo também foi publicado no Jornal de Uberaba em Março de 2020.
Esse artigo também foi publicado no Jornal de Uberaba em Março de 2020.
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